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Identificação Digital - Oportunidade com riscos

As fraudes e golpes sempre foram um problema recorrente, tanto no mundo real como no mundo digital, mas isso atingiu um novo nível com o surgimento das tecnologias de inteligência artificial e ferramentas de simulação.
É relativamente simples alguém se passar por outra pessoa utilizando um software de deepfake. Esse tipo de aplicação permite a construção de um rosto com movimentos a partir de uma simples foto. O mesmo pode ser feito com a voz, realizando simulações que podem confundir a maior parte das pessoas.
O problema é tão grave que empresas de tecnologia da informação e instituições financeiras estão buscando ampliar seus mecanismos de identificação de pessoas, tornando suas operações cada vez mais complexas.
Mas apesar de todo o investimento que vem sendo feito, hackers mal intencionados sempre encontram uma brecha, por meio da qual podem praticar suas tentativas de golpes, algumas vezes com sucesso e outras impedidas pelos sistemas de segurança e profissionais que atuam dia e noite fazendo a monitoração e oposição aos atacantes.
Tudo isso levará os governos e empresas, em algum momento, a adotar sistemas de identidade digital que sejam mais do que simples tokens transportados pelas pessoas. Estamos falando em algo mais significativo, como um chip implantado ou alguma outra tecnologia que, de forma similar, possa garantir uma identificação efetiva.
Isso pode parecer perfeito num primeiro momento. Um sistema praticamente infalível que garantiria alto grau de segurança, tanto para o cidadão quanto para os governos e empresas.
Imagine um mundo em que os golpes seriam uma exceção, porque as pessoas seriam facilmente identificadas e validadas nos sistemas. Golpistas não poderiam se passar por outras pessoas, e até mesmo os crimes seriam mais fáceis de serem resolvidos, porque seria possível descartar alguns suspeitos e identificar outros rapidamente.
A validação para fazer uma compra por meio da Internet seria mais efetiva e segura. O acesso à sua conta bancária e suas redes sociais igualmente. O metaverso seria um ambiente totalmente seguro.
Parece só haver vantagens em um sistema assim, e é inegável reconhecer que os pontos positivos são muitos. Mas como praticamente todas as tecnologias, também há riscos. O risco mais óbvio é o roubo de identidade. Porque sempre que alguém cria uma tecnologia nova, alguém tenta fazer engenharia reversa para promover cópias ou modificações, e há sempre alguém interessado em adquirir o produto que resulta dessas violações.
Mas esse não é o único risco. Há também um risco inerente aos próprios governos. Afinal, estamos sempre sujeitos a cruzar a tênue linha que separa um governo democrático de um governo totalitário. Um governo é uma força centralizada de grande poder e amplitude. Suas decisões podem ser efetivamente colocadas em prática por conta da força da lei e do seu poder econômico. Além disso, as novas tecnologias como inteligência artificial, reconhecimento facial e robôs de análise de dados, permitem um nível de controle nunca antes visto. Devido a todos esses elementos, é possível supor que um sistema de identificação digital poderia se tornar um risco, se controlado por um governo focado em vigilância e repressão. Mas embora esse risco não possa ser desconsiderado, ele é baixo em um cenário de instituições democráticas fortes, o que é a realidade na maior parte dos países.
De qualquer modo, é possível afirmar que as tecnologias de identidade digital serão implementadas em algum momento nos próximos anos, porque o volume de golpes e fraudes tende a aumentar até um nível que torne insuportável para o cidadão, empresas e governos lidarem com isso. E mudanças de grande magnitude só acontecem quando as pessoas estão convencidas de que isso é necessário para fazer cessar sua dor.